E se ela, Maria, um dia fosse escritora, como gostaria de escrever?
¬- Ah, suspira, queria que meu escrito fosse um acalanto ao avesso, com leveza capaz de acordar as crianças, inclusive essa que mora em mim. Ou mais que isso, que acontecesse um criançamento da palavra: tornando-se dançante, cheirosa, para que pudesse, não restituir o passado, mas que tivesse asas e voasse para um tempo além do tem po, onde o ontem e o amanhã pudessem se dar as mãos. Um tempo da delicadeza, de puro encantamento.
Um escrito que, como a prosa-poesia de Bartolomeu, soubesse torcer as palavras para que ganhassem força própria e pudessem ir mais longe. Pra curar as tristezas? Certamente que não. Afinal, muitas vezes precisava delas. Prece pra acabar os desencontros? Também não, eles fazem o pulsar da vida. O que queria afinal? Ah, queria uma palavra–Clarice, que pescasse a não-palavra; como o aliás de Adélia, peixe vivo na mão.
As palavras sabem muito mais longe. Podem criar amores, provocar suspiros, pintar aquarelas escorridas de seus desvãos. Na hora da escrita, queria ser tomada de uma doçura louca e virar Maria Candura, sem medo de encontrar o João, por que não, o João ternura. Porque o amor, ah o amor, como a escritura, o amor dá medo. É pertencimento recheado de solidão. É preciso atravessar o precipício e olhar do outro lado, bem diverso do que se supôs, não é João? Ser surpreendida por ele numa cidadezinha qualquer (pra que nome?), com janelas olhando a rua, um sol parado e teimoso, meninos coçando pereba e moça bonita de vestido curto, carregando água na cabeça. Poderia amá-lo sem fome e sem pressa, em absurda alvorada, dividindo a liberdade em fatias.
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
domingo, 15 de agosto de 2010
Oh vida grande pequena
A grandeza e a pequenes da vida as vezes ou frequentemente me assustam. A peça Clarice, estrelada por Beth Goulart é um espanto de grandiosa. De repente, aparece no palco Clarice em pessoa, não havia Beth Goulart, havia ali os textos de Clarice, falados por Clarice. Emoção que faz chorar. Como a arte pode ter tanta força, dar-nos tanto, acrescentar tanto a nossas vidas?
Em outros momentos, é a pequenez do ser humano que me assalta, com um revolver em punho. Como se pode as vezes colocar uma lente em coisas tão insignificantes? Freud nos alerta para a presença e a inevitabilidade dos preconceitos. Mas as vezes eu me dou o direito de me indignar, não quero compreender. Acho que felizmente...
Em outros momentos, é a pequenez do ser humano que me assalta, com um revolver em punho. Como se pode as vezes colocar uma lente em coisas tão insignificantes? Freud nos alerta para a presença e a inevitabilidade dos preconceitos. Mas as vezes eu me dou o direito de me indignar, não quero compreender. Acho que felizmente...
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Restos de viagem
Por que é tão bom viajar? Pra mim, viajar tem gosto de novidade: coisas novas pra ver com os olhos, as narinas, com a lingua e com o coração. Faz com que eu me sinta viva e veja o quanto que ainda há para apreender, experimentando outros pedacinhos do mundo. EXPERVIVENDO
Porque tem gosto de novidade, mesmo se o lugar já foi visitado anteriomente, posso ver o mesmo com outro olhar, assim como ver o caminhar da vida, que embora tenha muito pra melhorar, continua sendo encantadora.
Vejo também como mudou o meu olhar. Olho para o mundo e agradeço pela beleza de existir.
Gracias a la vida que me ha dado tanto!
Porque tem gosto de novidade, mesmo se o lugar já foi visitado anteriomente, posso ver o mesmo com outro olhar, assim como ver o caminhar da vida, que embora tenha muito pra melhorar, continua sendo encantadora.
Vejo também como mudou o meu olhar. Olho para o mundo e agradeço pela beleza de existir.
Gracias a la vida que me ha dado tanto!
terça-feira, 13 de julho de 2010
A linda flor do deserto
Faço minhas as palavras do Sebastião, amigo querido, sobre A flor do deserto e a atriz Liya Kebede interpretando Waris Dirie:
"O filme ainda tá reverberando ( gosto desta palavra). Achei bonito, sensível, apesar do tema pesado, cenas fortes e alguns lugares comuns. A atriz, belíssima. Tudo gira em torno dela e sua beleza, vinda do deserto, da dor, das perdas. E lida com a beleza, sempre. Limpando, cuidando, pastoreando, fugindo, desfilando, fotografando, se expondo. Beleza que se mostra o tempo todo."
"O filme ainda tá reverberando ( gosto desta palavra). Achei bonito, sensível, apesar do tema pesado, cenas fortes e alguns lugares comuns. A atriz, belíssima. Tudo gira em torno dela e sua beleza, vinda do deserto, da dor, das perdas. E lida com a beleza, sempre. Limpando, cuidando, pastoreando, fugindo, desfilando, fotografando, se expondo. Beleza que se mostra o tempo todo."
Direito de posse
Milenarmente pode-se constatar que os homens querem o direito de propriedade das mulheres. Querem uma garantia que a mulher não vai desejar, não irá olhar pra nada nem ninguém além deles mesmos.
Para isso, podem recorrer a estratégias macabras, entre elas a que é praticada em alguns paises africanos: a infibulação da mulher - retirada do clitóris e dos labios vaginais com costura posterior, que só vai ser rompida pelo futuro proprietário/marido, garantindo assim a fidelidade da mulher. Essa é a historia contada no filme Flor do deserto, baseada na vida da modelo Waris Dirie.
E na cultura ocidental, estamos livres disso? Assassinatos de mulheres, frequentemente anunciados pela mídia, mostram que não. Também por aqui os homens julgam ter o direito de propriedade das mulheres...
Para isso, podem recorrer a estratégias macabras, entre elas a que é praticada em alguns paises africanos: a infibulação da mulher - retirada do clitóris e dos labios vaginais com costura posterior, que só vai ser rompida pelo futuro proprietário/marido, garantindo assim a fidelidade da mulher. Essa é a historia contada no filme Flor do deserto, baseada na vida da modelo Waris Dirie.
E na cultura ocidental, estamos livres disso? Assassinatos de mulheres, frequentemente anunciados pela mídia, mostram que não. Também por aqui os homens julgam ter o direito de propriedade das mulheres...
sexta-feira, 9 de julho de 2010
Tempo de namoro
O tempo não anda em linha reta. Estou num tempo de namorar, como se fosse adolescente. E hoje é dia de comemoração. olha que chique!
quinta-feira, 8 de julho de 2010
A beleza efêmera do viver
O filme Hananmi - as flores de cerejeira é absolutamente comovente, tecido na trama entre o choque de relações inter-geracionais do mundo contemporâneo e a força da beleza efêmera.
As palavras chaves do filme parecem ser a incomunicabilidade e a transitoriedade.A história em resumo é a seguinte:
Trude ouve dos médicos que Rudi, seu marido, está com os dias de vida contados. Resolve não revelar a notícia a ele, devido às dificuldades de lidar com mudanças que percebe nele. Também não consegue comunicar o fato aos filhos, na medida em que eles não têm disponibilidade para ouvi-la.
Assim, decide abrir possibilidades para momentos de encontro e prazer nas relações familiares, mas sua tentativa é vã. A viagem que o casal faz para rever filhos e netos se mostra insustentável, pois cada um está preso as suas próprias questões. o aconchego familiar sonhado por Trude não se faz possível. Realizar sonhos novos na companhia do marido, para aproveitar seus últimos dias, também não. As iniciativas da mulher são vistas como estranhas e inassimiláveis para ele.
Talvez pela tensão de suportar sozinha o peso da revelação, é Trude quem morre subitamente.
Rudi, diante de sua perda, muda de posição e resolve dar a Trude da memória o que não pode dar à Trude-viva, percorrendo lugares que ela sonhava conhecer.
Vai ao Japão ver a beleza efêmera das cerejeiras em flor e também conhecer o Monte Fuji, tão fugidio envolto nas brumas.
Belezas evanescentes, assim como são evanescentes os momentos significativos da vida.
As palavras chaves do filme parecem ser a incomunicabilidade e a transitoriedade.A história em resumo é a seguinte:
Trude ouve dos médicos que Rudi, seu marido, está com os dias de vida contados. Resolve não revelar a notícia a ele, devido às dificuldades de lidar com mudanças que percebe nele. Também não consegue comunicar o fato aos filhos, na medida em que eles não têm disponibilidade para ouvi-la.
Assim, decide abrir possibilidades para momentos de encontro e prazer nas relações familiares, mas sua tentativa é vã. A viagem que o casal faz para rever filhos e netos se mostra insustentável, pois cada um está preso as suas próprias questões. o aconchego familiar sonhado por Trude não se faz possível. Realizar sonhos novos na companhia do marido, para aproveitar seus últimos dias, também não. As iniciativas da mulher são vistas como estranhas e inassimiláveis para ele.
Talvez pela tensão de suportar sozinha o peso da revelação, é Trude quem morre subitamente.
Rudi, diante de sua perda, muda de posição e resolve dar a Trude da memória o que não pode dar à Trude-viva, percorrendo lugares que ela sonhava conhecer.
Vai ao Japão ver a beleza efêmera das cerejeiras em flor e também conhecer o Monte Fuji, tão fugidio envolto nas brumas.
Belezas evanescentes, assim como são evanescentes os momentos significativos da vida.
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