O filme Hananmi - as flores de cerejeira é absolutamente comovente, tecido na trama entre o choque de relações inter-geracionais do mundo contemporâneo e a força da beleza efêmera.
As palavras chaves do filme parecem ser a incomunicabilidade e a transitoriedade.A história em resumo é a seguinte:
Trude ouve dos médicos que Rudi, seu marido, está com os dias de vida contados. Resolve não revelar a notícia a ele, devido às dificuldades de lidar com mudanças que percebe nele. Também não consegue comunicar o fato aos filhos, na medida em que eles não têm disponibilidade para ouvi-la.
Assim, decide abrir possibilidades para momentos de encontro e prazer nas relações familiares, mas sua tentativa é vã. A viagem que o casal faz para rever filhos e netos se mostra insustentável, pois cada um está preso as suas próprias questões. o aconchego familiar sonhado por Trude não se faz possível. Realizar sonhos novos na companhia do marido, para aproveitar seus últimos dias, também não. As iniciativas da mulher são vistas como estranhas e inassimiláveis para ele.
Talvez pela tensão de suportar sozinha o peso da revelação, é Trude quem morre subitamente.
Rudi, diante de sua perda, muda de posição e resolve dar a Trude da memória o que não pode dar à Trude-viva, percorrendo lugares que ela sonhava conhecer.
Vai ao Japão ver a beleza efêmera das cerejeiras em flor e também conhecer o Monte Fuji, tão fugidio envolto nas brumas.
Belezas evanescentes, assim como são evanescentes os momentos significativos da vida.
Achei o filme belíssimo, de delicadeza ímpar, apesar de tema tão difícil. Ao lado da incompreensão familiar, mesmo no diálogo que faltou ao casal de protagonistas, há a delicadeza da dançarina de butô. Jovem, carente do afeto da mãe e de bens materiais, ela é capaz de expressar sensibilidade na dança tradicional e na vida: tem diálogo terno, amoroso com o viúvo, num contexto que ultrapassa o trivial. Mostra-se solidária, identifica-se, promove o encontro não acontecido até então. O filme é aula de delicadeza, como a dança oriental e as cerejeiras em flor.A beleza saída das perdas, dos desencontros, do desamor e possibilidade de resgate, através da compaixão em forma de arte.
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