segunda-feira, 19 de novembro de 2012
UNI-VERSO
"Treme a folha no galho mais alto" _ escrevo. Paro e sorvo, de olhos fechados, o cheiro bom da terra, do capim chovido... Parece que quer vir um poema... Abro os olhos e fico olhando, interrogativamente, a linha que escrevi no alto da página. Depois de longo instante, acrescento-lhe três pontinhos. Assim não ficará tão só enquanto aguarda as companheiras. O vento fareja-me a face como um cachorro. Eu farejo o poema. Ah, todo mundo sabe que a poesia está em toda parte, mas agora cabe toda ela na folha que treme.
Por que não caberia então em único verso? Um uni-verso.
Treme a folha no galho mais alto."
Mario Quintana
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Só Quintana para brincar assim com as palavras. Um verso que vira uni-verso, que contém um universo poético todo em si. As palavras estão aí à nossa disposição. Só o poeta para reuni-las, para poetizá-las. Mesmo quando no ato da criação da poesia. Ela se faz sendo criada. O texto poético nasce na tentativa de fazê-lo, metalinguisticamente. Isso é muito bonito. Muito poético.
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