À noite, quando criança,
No meio do sono, acordava, palpitante.
Aqueronte, o rio carente de auroras,
insistia em cantar em seu ouvido.
A melodia era doce, um chamado.
Que era aquele mistério?
Corria, pulava no mar, para ouvir o canto da sereia.
Quem sabe o segredo estaria lá?
Acolhia os bichos abandonados,
Cuidava deles, acariciava-os,
para vê-los morrer depois.
Estrangulado pelas suas mãos,
tomadas pelo fascínio.
Destemido da vida, avançava, desafiando seus limites.
Onde estava a fronteira?
Navegava no barco de Caronte,
mas não via a cara da verdade.
E se deitava no leito das mulheres
Em busca de um gozo que era vida e morte.
E se embriagava , inebriado por uma ânsia de tudo ter.
Mas algo escorria, escapava dos seus dedos,
E Aqueronte renovava seu chamado.
No meio de Eros, lá estava seu sussurro.
Dançava em sua frente, na nudez das mulheres,
E dava uma piscadela, no afeto pelos amigos,
Na revolta contra a injustiça.
E em sua ânsia de desvendar os mistérios da natureza,
De seu corpo, tão jovem,tão belo.
De amores por conhecer.
Apressado, aprisionado, desassossegado,
queria a plenitude do tudo-saber.
Nada se comparava à volúpia de Tânatos.
Seria doce ser beijado por ela?
Um dia, decidido,
fez o movimento fatal.
Ouviu-se um estampido
e mais nada.
Lá se foi.
Condenando-nos
À falta de resposta.
Condição de nossa existência.
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